Neste dia cinzento do Outono que tardava, inspirada na leitura da Rosa, resolvi voltar aqui.
Hoje falei como é habitual, telefonicamente, com os meus netos. Ele entrou este ano para o 1º ciclo e eu receava que, ainda sem os 6 anos feitos (já os fez entretanto), ainda não tivesse maturidade para enfrentar este desafio. A alegria que manifesta em cada dia por ter aprendido mais uma pequena coisa é deliciosa. Hoje aprendeu o 3 (algarismo e palavra) e lá soletrou, muito contente, as letras da palavra três.
Talvez por isso lembrei-me dos meus professores primários, como então se chamavam, os primeiros que tive. Não tive educadores de infância, que era "coisa" que eu nem sequer sabia que existia, à época. Estranhamente (o meu pai desconfiava do ensino particular), frequentei uma escola privada já que funcionava no meu bairro, em Lisboa, e a situação profissional dos meus pais não facilitava a frequência da escola oficial para onde era necessário ir de eléctrico. Tive um casal de professores, que, sendo-o no ensino oficial, tinham uma pequena escola particular no rés do chão de um prédio vulgar, próximo da casa de pasto (pomposamente chamada Cervejaria) propriedade dos meus pais, onde trabalhavam a tempo inteiro até altas horas da noite. Não tinha casa como as outras meninas (a escola era exclusivamente feminina, tal como o liceu que frequentei depois); o estudo e os trabalhos de casa eram feitos na sala das refeições da dita Cervejaria, quando a frequência o permitia. Mas já sabia ler, quando fui para a escola, fruto da minha curiosidade e da ajuda de uns clientes cuja filha frequentava a Universidade e "puxava por mim". Curiosamente, o professor foi o primeiro Hamilton que conheci; o segundo foi o meu marido.O professor Hamilton era um sportinguista ferrenho. Quando o Sporting perdia num domingo, na 2ª feira era muito difícil de aturar... A professora era a D. Celeste, muito magrinha e elegante. Excelentes professores!
Infelizmente não poderei dizer o mesmo de muitas das professoras que fui tendo ao longo dos sete anos em que frequentei o liceu.
Normalmente, lembramos apenas os professores muito bons ou os muito maus; no meu caso, tive mais nesta última categoria. É por isso que, quando ouço dizer que antigamente é que se ensinava, que havia respeito pelos professores, me dá vontade de rir.
Quando uma professora era gozada descaradamente perante toda a turma pelas mais diversas razões; quando era possível aprender a jogar o "King" enquanto a professora dava a aula; quando várias alunas saíam da sala durante a mesma, sem que a professora dissesse uma palavra; quando durante dois anos nunca foi feito na aula um único problema cuja solução coincidisse com a que o livro continha; quando uma professora comprava o peixe à peixeira que passava na rua com uma canastra e o guardava na boina que antes usara na cabeça; quando não apetecia ter aula e se chateava a professora até ela nos levar ver um filme (sempre o Parque de Yellowstone); quando a professora de Inglês dizia "parapes" querendo referir-se ao nosso talvez; quando., quando, quando... Então havia respeito? Ensinava-se bem?
As crianças e os jovens vão fazendo as suas experiências e esticam a corda o mais possível; vão até onde os deixam, não só com os professores, também com os pais.
Mas são os pais os principais responsáveis pela educação das crianças e dos jovens. Os professores podem e devem ser colaboradores nessa tarefa sempre difícil, mas o tipo de dificuldades vai-se alterando em função do momento histórico em que se vive.
Não é por acaso que circulam textos escritos em diferentes épocas que nos parecem tão actuais, que podiam ter sido escritos hoje. E a crise da escola está sempre presente. Faz parte da sua essência.
Felizmente aposentei-me como professora sem qualquer ideia negativa sobre os jovens, talvez por ter tido a sorte de encontrar nas minhas turmas alunos que eram excelentes pessoas, o que é bem mais importante que serem bons alunos, como diz e bem uma amiga e colega de profissão. Tenho bem mais razões de queixa de alguns adultos com os quais me cruzei na vida profissional nas diversas funções que, ao serviço da educação e do ensino, fui desempenhando.
Como em tudo na vida, há bons e maus; no meu caso, o saldo foi positivo para os alunos e negativo para os professores.
1 comentário:
Pois eu, que não posso falar de netos, falo de professores e posso dizer que os tive maioritariamente bons.
Tirando o brigadeiro aposentado que me deu matemática durante 4 anos no colégio, assim como o capitão no activo que me deu físico-química...
Nunca tive muitas afinidades com o exército! :-))
Abraço
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