Estive uma semana fora, sem notícias lidas ou ouvidas sobre Portugal, excepto sobre futebol (queixamo-nos da nossa televisão, mas a italiana não é melhor).
Ainda não tinha entrado em território português (o avião da TAP), tive acesso a jornais nacionais e cheguei à conclusão de que mudara a relação ME - escolas e professores; estava tudo pior.
Apesar de, em termos de princípios, estar de acordo com algumas "reformas" necessárias, não posso estar mais em desacordo, não só com o seu conteúdo, mas em particular com a forma como foram introduzidas.
De facto, a Sr-ª ministra entrou mal e o que nasce torto...
A estratégia populista de "ganhar a população" à custa de "perder os professores" inquinou a relação.
O "vírus" que se instalou espalhou-se por todo o país, provocando uma verdadeira epidemia, cuja forma de tratamento está longe de ser descoberta. O "vírus" chama-se "concurso para professores titulares" e levou à desorganização das células (escolas/agrupamentos) de tal forma que cada um do seus componentes ficou desorientado, baralhando os papéis. Professores com vários anos de experiência e reconhecidamente competentes foram preteridos por outros que, nas escolas, toda a gente sabe que não são tão competentes, ou são mesmo incompetentes, e irão ser avaliados por estes. Haverá melhor razão para estar contra esta avaliação? O que está fundamentalmente em causa não é tanto o modelo nem a forma de concretização do mesmo; a raiz do problema está no concurso que o antecedeu.
É certo que os professores têm alguma responsabilidade nisto, em particular as organizações sindicais que nunca foram capazes de lutar por uma verdadeira carreira docente, em que os professores sentissem que o seu esforço e dedicação eram valiosos e reconhecidos, tornando a progressão na carreira um processo meramente burocrático, apesar da existência de um processo de avaliação.
Têm culpa os professores que, não vendo qualquer vantagem no desempenho de certas funções, tentavam escapar ao desempenho de cargos que lhes traziam mais responsabilidades e nenhumas vantagens?
Culpa tem a tutela que permitiu que, ao longo de dezenas de anos, o trabalho daqueles que mantiveram a escola pública com prestígio, apesar dos ziguezagues do ME, não fosse reconhecido.
Comparam-nos com os outros países da UE. Não podemos esquecer, no entanto, que o nosso ponto de partida era muito inferior ao dos outros; é que foi só na década de 60 que, em Portugal, a escolaridade obrigatória de 4 anos foi aplicada às mulheres!... E há países onde não há analfabetismo desde o séc. XIX...
Um ministério (vários!) que não regulamenta as leis e permite que um professor que requereu a menção de excelente, porque isso o faria progredir mais rapidamente na carreira, apenas tenha resposta a esse seu pedido passados vários anos, quando ela já nada contribuía para a sua progressão porque o decorrer do tempo já lha tinha dado (casos houve em que o professor requerente já tinha morrido), não tem culpas nenhumas? E os burros são os professores?
São, porque permitiram, com a sua inércia, que o sistema de ensino público fosse sendo desacreditado demagogicamente com o "chavão" de que não havia avaliação, porque os professores não queriam.
E vem agora este ministério "introduzir a avaliação"? Engana a população, mas, como é bem visível, não engana os professores.
Em 13 de Dezembro de 2008:
Eu nem queria acreditar naquilo que vi hoje de manhã... Então não é que encontraram 13 (treze!) professores que estão de acordo com este modelo de avaliação já simplificado, claro. Eu até talvez estivesse, se não tivesse havido aquele concurso para professores titulares... Mas não haverá vergonha em divulgar este n.º? Fizeram contas? É que 13 é 0,01% de 130 000!
Quem passa pelas escolas e fala com os professores, não encontra estas "aves raras". Cuidado! os animais raros, em vias de extinção, merecem cuidados especiais das "sociedades protectoras".
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