domingo, 25 de maio de 2008

Auto-estradas e Educação

Nota: este texto foi escrito em Dezembro de 2005 para ser publicado num jornal local e, tal como outros que escrevo de vez em quando, não cheguei a enviá-lo para publicação. Julgo que faz sentido aqui onde estou.

Desengane-se quem pensa que vou falar do investimento em auto-estradas em prejuízo do que devia ter sido feito em Educação. Não, vou apenas comparar os procedimentos na Educação e nas auto-estradas portuguesas e as respectivas consequências.
São frequentes, nas auto-estradas, acidente em cadeia. E por quê? Os condutores, muito provavelmente na sua maioria, cumprem o limite de velocidade imposto – 120 Km/h; no entanto, nem sempre as condições de visibilidade e do piso aconselham esta velocidade. As consequências são, normalmente, mortos, feridos e muitos prejuízos materiais. Infelizmente nos casos de morte nada se pode remediar; poderão alguns feridos recuperar e os estragos materiais resolverem-se com a substituição das peças ou mesmo de todo o veículo danificado, com a intervenção das companhias de seguros.
Na Educação, as medidas podem ser legais, pelo menos terão legitimidade democrática por serem tomadas por um governo eleito pela maioria dos portugueses, e até cumprindo o seu programa. Mas também aqui a velocidade é determinante. A velocidade de aplicação das medidas nem sempre tem em conta as condições concretas do terreno e à velocidade excessiva corresponde o que é de esperar – acidentes, alguns de efeitos bem visíveis: “mortos” para a profissão, particularmente de bons, dedicados, estudiosos e preocupados professores, que procuraram sempre auxiliar a sua prática pedagógica com leituras e reflexões individuais ou partilhadas, que fizeram sempre formação, independentemente dos efeitos dela na sua carreira, e que a abandonaram precocemente; “feridos” dificilmente curáveis, que passaram a faltar por doença real (não inventada e atestada por médicos que vendem a sua honra). Mas o pior é que também estes acidentes são em cadeia; a diferença está em que, no caso das auto-estradas, o choque é imediato e, no caso da Educação, ele dá-se ao longo de gerações e não há “bate-chapas” nem seguradora que o resolva. Por isso, tal como nas auto-estradas, já chega! Parem para pensar antes de agir. Pensem nas consequências, antes de “pisarem o risco” e, decerto, os acidentes reduzem-se e deixaremos de estar na primeira posição do ranking dos “maus”.

1 comentário:

Rosa dos Ventos disse...

Escrito em Dezembro de 2005!
Perfeitamente e completamente actualizado...
Por que será?!

Abraço